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Conto: Daqwar Edon & Laínnstia – Mistérios Subterrâneos

Já havia se passado três luas desde o combate no cânion e nenhum sinal do bando do Ladrão de Caravanas aparecer por ali ou pelos locais próximos. Cansados de esperarem e ficando com poucos recursos, o magista e a serpe decidiram retirar-se do Deserto Saatagâmico e rumar para o És-sudeste, que apesar de o clima também ser árido, havia mais recursos que o lugar que ficaram por quase uma semana.

Era uma viagem curta, mas desconfortável para o mago, pois Laínnstia não aceitava que o tal ficasse montado em suas costas enquanto ela voava, então a nobre em corpo de serpe sempre o carregava pelos braços usando suas poderosas patas traseiras.

Paradas repentinas pela dor nos membros do jovem eram comuns, mesmo que de uns tempos para cá ele estivesse conseguindo suportar um pouco mais a dor, mas uma pausa foi necessária não só por conta do mago: a noite estava caindo no horizonte.

Pouco mais de duas horas de voo foram o suficiente para ambos já estarem dentro de Sertaatinga, também conhecida como a Região de Mata Branca.

Edon indicou um bom local de pouso: uma parede constituída por três grandes pedras de formação desconhecida, talvez não natural, que formavam uma barreira contra o vento que soprava à esquerda. Laínnstia desceu, largou cuidadosamente o parceiro ao chão do local indicado e pousou em cima da formação como uma grande ave de rapina.

— Laínnstia, o que seus olhos de serpe veem adiante? — Perguntou Edon, massageando um pouco os ombros doloridos.

— Vejo apenas árvores secas e arbustos espinhentos, esse lugar tem uma mata muito densa para eu ver qualquer coisa.

Laínnstia ajeitou-se lá encima para conseguir uma posição mais equilibrada para erguer seu pescoço e ver acima de toda aquela vegetação, mas o topo do paredão era levemente arenoso e escorregadio, então sua perna deslizou para o lado e entrou em um grande buraco que havia. O susto de uma quase queda fez Laínnstia gritar, ou rugir no caso das serpes.

— O que aconteceu!? — Perguntou Edon, também se assustando com aquele alvoroço.

— Eu quase caí daqui de cima! E acho que minha perna está presa em um buraco.

— Buraco?

— Sim, um buraco, não viu ele enquanto a gente voava?

— Não, e nem me culpe por ter uma visão menos evoluída que a sua!

Laínnstia bufou.

Com pouco esforço, a serpe conseguiu tirar a pata do buraco e se posicionou num lugar mais estável no topo. Curiosa, ela olhou o buraco e enxergou não só seu fundo como o que ela imaginou ser uma passagem levemente íngreme que descia por dentro da terra.

— Edon, acho que esse buraco deve ter algo interessante.

Mesmo sabendo que o tal “algo interessante” fosse mais um nada demais, Edon ainda assim ficou instigado.

— Consegue me erguer até aí? — Perguntou o mago, já empunhando sua glaive amaldiçoada para caso encontrasse algo desagradável dentro daquele buraco.

Laínnstia o segurou pela gola e capuz do manto usando seus dentes e levou o rapaz para cima do paredão.

— Nossa, seu cabelo ainda fede a sangue seco; reclamou a serpe.

— Depois eu lavo ele melhor; respondeu irritado com o comentário a respeito de seu longo cabelo branco.

Mesmo tendo uma visão pior que a de sua companheira, Edon pôde ver o fundo e um pouco do que também imaginou ser uma passagem para baixo. Descer não era problema, pois seria uma queda baixa e sua arma ainda ajudaria em sua desaceleração se usada contra as laterais do buraco. E assim ele fez: primeiro apoiou as extremidades da glaive contra as paredes da entrada e então se deixou descer lentamente até pousar no fundo, recolhendo a arma em seguida.

Mesmo que agora conseguisse ver uma descida, a escuridão de lá de dentro era grande demais para ele ver até dois ou três palmos à frente; então sacrificou uma pequena tira de seu cachecol para improvisar uma tocha, enrolando-a na ponta de um de seus sabres e incendiando-a com uma magia simples: Criar Fagulha.

A tocha iluminou vinte pés à frente e o mago pôde ver então um corredor que se estendia por tal distância até terminar no que Edon imaginou ser o começo de uma sala.

Curiosa, Laínnstia enfiou sua cabeça dentro do buraco até ela ficar quase no nível da luz da tocha do magista. Então ela olhou adiante.

— Edon, parece que lá na frente tem um escritório. Estou vendo uma mesa, uma cadeira e…um corpo.

— Corpo?

Edon avançou passagem adentro até chegar no tal escritório: realmente tinha uma cadeira, uma mesa e um corpo esquelético de aparência carbonizada largado no chão, mas também havia um pequeno baú no canto. Antes de qualquer coisa, Edon foi investigar o corpo.

— Esse corpo é antigo, estimo que ele ou ela morreu acerca de um ou dois anos. Pelas marcas nos ossos parece que esse sujeito teve um encontro bem desagradável com um dragão enquanto ainda estava aqui dentro.

— É um humano?

— Não, eu acho que é um elfo, o crânio é muito alongado para ser um humano.

Edon deixou o corpo de lado e olhou os arredores. Nem mesmo a mesa e a cadeira haviam escapado das mesmas chamas que mataram aquele elfo, mas o baú estava estranhamente intacto apesar de aberto. O rapaz se aproximou cautelosamente até a luz da tocha iluminar o interior do compartimento, revelando um pergaminho aberto e jogado lá dentro.

O mago pegou o pergaminho pelo seu rolo e tentou ler o que havia escrito nele, mas a escrita era Arcana, ou seja, eram runas que só estudiosos entendiam. Concentrando-se, Edon usou sua Leitura Arcana sobre aquelas escritas. Sua cabeça latejou e a ferida que havia ganhado na sobrancelha ardeu, mas aquilo não foi em vão.

Ardon Eferus Pentales — Disse o mago, antes de anotar em seu grimório aquilo que havia lido, guardar o pergaminho consigo e voltar para onde Laínnstia o aguardava.

A serpe novamente o segurou pela gola e o tirou do buraco para então colocá-lo de volta no topo do paredão.

— Não foi um dragão que matou aquele elfo, foi esse pergaminho que achei — Edon mostrou o pergaminho para Laínnstia, que ficou confusa.

— Como é possível um pergaminho matar alguém?

— Me expressei mal. Na verdade, o que matou foi magia que está escrita nele. — Iniciou Edon — A magia é selvagem e seletiva, quase como um ser vivo. Não aceita aqueles que ela sabe que não são capazes de compreendê-la, e pior, se eles insistirem nisso ela faz questão de matá-los.

— Caramba, mas que magia é essa então?

Edon sorriu, tirou a máscara que cobria seu nariz e boca e começou a gesticular enquanto recitava palavras mais incompreensíveis que as falas da serpe para os comuns.

Faíscas e labaredas surgiram de suas mãos, então ele as estendeu para frente, com os dedos esticados e polegares juntos, para de repente um jato de fogo surgir à frente e do nada para a surpresa de Laínnstia. O jato cobria quase doze metros de comprimento e se espalhava pela ponta numa área de três metros para mais.

O efeito da magia durou menos de dez segundos e ao fim disso o mago comentou:

— Raio de Fogo, Laínnstia, eis minha nova magia.

Vini M. Freire

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