A mineração é uma das engrenagens fundamentais da economia, não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro, gerando empregos e movimentando uma enorme cadeia produtiva. Minérios como ferro, ouro, bauxita e nióbio são pilares das exportações brasileiras. E o que antes parecia distante do estado do Piauí passou a fazer parte da realidade piauiense nos últimos anos.
Anteriormente, apenas a opala era sinônimo de mineração no estado. Hoje, o ferro, em Piripiri, Paulistana e Curral Novo; reservas de níquel em São João do Piauí e Capitão Gervásio; o manganês, em Gilbués; fontes de calcário em Antônio Almeida e Morro Cabeça do Tempo; e até o ouro, no município de Currais, entre outros minérios, fazem parte do cenário atual, revelando a riqueza do Piauí e transformando a realidade de muitas pessoas.
Há que se dizer, porém, que reconhecer os benefícios econômicos da mineração não significa ignorar seus efeitos colaterais. A atividade pode trazer impactos sérios se não for bem regulada e fiscalizada. Há riscos de desmatamento, degradação de ecossistemas frágeis, contaminação de rios e solos por rejeitos de mineração, além de impactos na saúde de trabalhadores e moradores próximos às áreas mineradas.

É justamente sobre os impactos provocados pela mineração, especialmente nas comunidades situadas ao redor das áreas de exploração mineral, que a advogada Géssica Moura (foto) — pesquisadora e mestre em Direito pela Universidade Federal do Piauí (UFPI) — se propôs a investigar e dialogar com as populações afetadas. Em sua dissertação de mestrado, intitulada "Função social da mineração no Piauí: análise jurídica sob a perspectiva ESG", ela analisa as práticas ESG (Environmental, Social and Governance) — sigla em inglês que reúne princípios voltados à sustentabilidade ambiental, responsabilidade social e governança corporativa — aplicadas ao setor mineral no contexto piauiense.
Em sua pesquisa, Géssica Moura vai além da abordagem acadêmica tradicional e busca estabelecer um diálogo sensível e direto com as comunidades afetadas pela mineração. Como parte de sua dissertação, ela elaborou, junto com o cordelista Envandro Aquino Lacerda, um cordel intitulado "Mineração e ESG: um Cordel de Responsabilidade e Sustentabilidade", utilizando a linguagem popular como ferramenta de conscientização e engajamento.
Na manhã do último domingo, 29 de junho, Géssica visitou a comunidade quilombola Suçuarana, em Piripiri (PI), onde pôde conversar com os moradores sobre os impactos da mineração no território e apresentar seu trabalho. "Esse projeto nasceu da preocupação real com os efeitos da mineração em nossas terras, nos nossos modos de vida e na forma como, muitas vezes, as comunidades tradicionais não são ouvidas", afirma. Segundo ela, o objetivo é construir um projeto educativo baseado no respeito e no diálogo, usando a literatura de cordel como um meio acessível e poderoso de comunicação. “O cordel é uma forma bonita e popular de contar histórias. Quero que a mensagem faça sentido na realidade das pessoas, ouvir a sabedoria da comunidade, aprender com ela e, ao mesmo tempo, contribuir para fortalecer o conhecimento sobre os direitos coletivos e sobre como a mineração pode ser realizada de maneira mais justa, com respeito à natureza e à cultura local”, explica.
Prêmio Innovare
O projeto foi reconhecido nacionalmente e indicado ao Prêmio Innovare, uma das mais prestigiadas iniciativas no âmbito do sistema de justiça brasileiro. Para a pesquisadora, no entanto, ele só fará sentido se for construído por quem vive na terra. "Só faz sentido se for construído por quem sente na pele os impactos da mineração, para construirmos juntos um caminho de sustentabilidade, desenvolvimento e valorização dos saberes da comunidade", disse a pesquisadora.
Ainda de acordo com Géssica Moura, os princípios ESG exigem escuta, transparência e corresponsabilidade, e só se concretizam quando há diálogo genuíno entre empresas, poder público e comunidades afetadas. "É necessário abrir um diálogo transparente, com a escuta das comunidades afetadas", pontua.
Para a presidente da Associação Comunitária de Suçuarana, Maria de Lurdes, a palestra foi bastante rica para a comunidade. "A gente precisa ter essas informações e estaremos aqui abraçando essa causa", disse a presidente.
O vice-presidente da associação, Henrique Pereira, afirmou que as informações são importantes para a comunidade como forma de prevenção para o futuro. "Temos que estar atentos a esse movimento para que a gente e as empresas possam ver o que vem pela frente. É preciso que a gente esteja seguro do que quer e do que vai ver", observou.
Para a dona de casa Rejane de Sousa, o assunto tratado foi muito importante. "Acho que perdeu quem não está aqui", concluiu.
O avanço da mineração no Piauí traz oportunidades econômicas relevantes, mas também exige atenção aos seus impactos sociais e ambientais. Iniciativas como a da pesquisadora Géssica Moura mostram que o caminho mais justo passa pelo diálogo com as comunidades, pela valorização dos saberes locais e pela busca de uma mineração mais consciente e sustentável.

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